1 – Os resultados eleitorais do passado dia 4 ditaram uma sentença óbvia: o novo Governo andará permanentemente de corda ao pescoço, sempre à espera que alguém lhe aperte o garrote da forca. O primeiro-ministro, seja ele quem for, sabe que todos os dias pode acordar com a sentença de morte pendente de um qualquer expediente parlamentar, ou do simples amuo das oposições ou dos próprios parceiros de governação.
É neste quadro político que o país vai viver nos próximos tempos. É mais que óbvio que a atual legislatura só por milagre chegará ao fim dos quatro anos. E se tal acontecer, então iremos viver uma outra experiência, que será a de voltarmos a ter vários governos durante este espaço de tempo. Por isso, com ou sem eleições pelo meio, ninguém acredita na estabilidade governativa, em face destes indicadores.
2 – Para já, é prematuro dizer se a legislatura arrancará com um Governo liderado por Pedro Passos Coelho, ou por António Costa. Qualquer destas hipóteses será sempre instável. Ainda que a coligação PSD/CDS chegue a um acordo com o próprio PS, é mais que provável que um tal acordo será sempre transitório. Porventura apenas para assegurar a aprovação do orçamento de estado para o próximo ano, e pouco mais.
Mas se tal acontecer, o mais certo é que logo no início do próximo verão comecem as escaramuças, em torno dos preparativos para o Orçamento de Estado de 2017. É por demais expectável que a cobrança das faturas partidárias se faça sentir bem antes. Ou seja, só com muita benevolência é que o Governo que nascer agora poderá ultrapassar incólume o outono do próximo ano.
3 – É verdade que ninguém esperava que António Costa, derrotado nas urnas, fosse tão longe nas suas reviravoltas, e tão generoso para com os partidos à sua esquerda. Ninguém percebe como bloquistas e comunistas possam agora acomodar as opções programáticas “austeritárias” – como costumam dizer – que Bruxelas continuará a impor aos membros do grande clube. Mas a política é isto mesmo. Ou seja, o que ontem era verdade hoje deixa de o ser, e as certezas de hoje são incertezas amanhã…
Perante tudo isto, a grande dúvida é exatamente saber como irá reagir a economia portuguesa no meio deste vendaval, nos próximos tempos. Iguais dúvidas, ainda que com menor incerteza, persistem sobre como se comportará a União Europeia se os indicadores do défice público e do endividamento derem sintomas de agravamento. E mesmo que, por instantes, alguém pareça sair beneficiado, no final do dia a cobrança há-de chegar. Caso para perguntar: está o país a caminho de se meter num labirinto sem saída?