
Foi em tempos de pandemia que a Câmara Municipal de Gondomar implementou o projeto @D’Ouro Voz Amiga, que pretende auxiliar os idosos com mais de 60 anos residentes em Gondomar. A iniciativa surgiu da necessidade de acompanhar muitos idosos que se encontram sozinhos em tempo de COVID-19.
A vereadora Cláudia Vieira começa-nos por contextualizar de onde surgiu a ideia. “Inicialmente, estávamos a contactar, um por um, a todos os 18.500 idosos referenciados pela Câmara” para saber se necessitavam de alguma ajuda, “se estavam sós ou se tinham uma rede de suporte familiar”. Dado que esta faixa etária são os de maior risco“ a nossa prioridade era que todos tivessem acompanhamento” perante o cenário que estamos a passar.
Segundo a Vereadora, “felizmente muitos tinham com quem contar”, enquanto outros tiveram que recorrer à nossa ajuda e ainda “constatamos que havia um grupo muito significativo (600 pessoas) que precisavam de contacto, de ter apenas uma conversa porque se sentiam sós, chegavam até a perguntar caso se sentissem muito sozinhos se podiam voltar a ligar e o técnico registava estas questões das necessidades de monitorizações para acompanhamento e fazia o técnico a ligação”.
No entanto, o fluxo de trabalho começou a ser muito e “nós começamos a sentir dificuldades para dar resposta”, sendo assim a Câmara sentiu necessidade de “organizar este projeto e recorrer ao nosso banco local de voluntários para organizar” uma estrutura que desse “corpo” às necessidades, “foi nessa necessidade que surgiu o Projeto Voz Amiga”.
O VivaCidade esteve à conversa com a Idosa Arminda Silva e a Voluntária que a acompanha Cristina Mesquita. Arminda começa por dizer que soube da iniciativa quando à contactaram por telefone. Recorda que na altura do primeiro contacto “andava muito preocupada porque tinha uma filha a viver em Madrid” e por toda a situação que Espanha estava a passar. Arminda conta que vive sozinha e que Cristina fez a diferença na sua vida, porque “aumentou a minha autoestima e ajudou-me muito a ultrapassar esta fase” em altura de pandemia. A idosa descreve que “Cristina é uma voz amiga” que mudou para melhor a sua vida, “ela é muito amável e atenciosa comigo falamos de tudo, abro-me mais com ela do que com os meus filhos”, Arminda explica que há cerca de 15 dias atrás estava com um problema de saúde e que se não fosse a sua “voz amiga” não teria procurado ajuda, “ela estava constantemente preocupada e a ligar-me”. Quanto aos filhos, a idosa refere que “estão muito felizes” com esta iniciativa da Câmara.
Cristina Mesquita já está habituada a fazer voluntariado e tomou conhecimento da iniciativa da Câmara pelas redes sociais e, após ter recebido formação, foi-lhe cedido um número pela Câmara para que esta pudesse acompanhar a sua idosa. Cristina explica que o acompanhamento que faz é adaptado conforme a “vida dessas pessoas em horários e ritmos que são acordados com cada uma”, na sua opinião, todo o processo tem sido “entusiasmante e reciprocamente satisfatório”, Cristina explicou ao VivaCidade que este “tipo de solidão é muitas vezes o gatilho que disparam uma depressão e sofrimento que pode ser motivo de doença emocional e física” daí, no ponto de vista da voluntária este tipo de iniciativa é “absolutamente essencial já que permite a estas pessoas usufruírem de atenção dirigida a si, no conforto das suas casas, adequada ao seu tempo e que lhes consegue assegurar uma rotina de relacionamento e assim quebrar a falta de sentido a que a sua vida as parece remeter”.
Em simultâneo, falamos também com Dulce Cardoso que é acompanhada por Vasco Vieira. A história de Dulce é semelhante à de Arminda, no entanto
“As nossas conversas são como
um comprimido que me faz muito bem”
os problemas de Dulce vão além do Coronavírus. Dulce há uns anos perdeu o seu único filho que lhe era tudo o que tinha na vida e apesar de ter um neto, são raríssimas as visitas, “no momento encontro-me sozinha e ficarei sozinha porque não tenho ninguém”. Para a Idosa, Vasco “é a minha voz amiga, visto que nunca tenho ninguém com quem conversar, porque cada qual tem a sua vida”. Para Dulce, esta iniciativa ajudou-a muito e o que mais lhe custa “é ser por telemóvel” e não presencialmente, porque para além de uma companhia é um amigo que criou.
Vasco Vieira, descobriu esta iniciativa também pelas redes sociais. O voluntário reconhece que no seu caso Dulce é uma pessoa “que sofre mais com a solidão, pela partilha de algumas situações da vida quotidiana e até passadas que deixaram traumas, deixaram mazelas” e, na perspetiva de Vasco, o facto do idoso ter alguém em que pode confiar e que esteja disposto “a ouvir, a compreender, a perceber e a partilhar” é extremamente importante.
Na mesma linha, o voluntário relembra uma frase que Dulce outrora referiu e que lhe ficou na memória: “As nossas conversas são como um comprimido que me faz muito bem”. A amizade e a intimidade que se criou entre ambos é visível. O voluntário acredita que este tipo de apoio emocional é “essencial” para a vida destes idosos, principalmente em tempos de coronavírus, “mas mesmo numa época de não COVID-19, seria muito importante dar continuidade ao projeto porque ele não deve morrer após a pandemia dado que é muito importante para a vida dos mais velhos”, porque realmente faz a diferença. ▪