
O Movimento em Defesa do Rio Tinto completou no dia 5 de junho o seu 10.º aniversário. Ao Vivacidade, alguns dos membros da organização riotintense recordaram a história do grupo e as conquistas alcançadas durante uma década de luta.
Em 1996, nascia em Rio Tinto um movimento de cidadãos que se unia em defesa do principal curso de água natural da cidade, o rio que dá nome à freguesia. Na altura o Movimento em Defesa do Rio Tinto (MOVE) arrancava com os propósitos de defender o rio, as suas margens e o património ligado ao rio. “Esses foram os principais objetivos do Movimento e mantêm-se atuais”, afirma Paulo Silva, membro do MOVE.
“Este rio sempre foi maltratado e só um grupo de lunáticos imaginou que poderia ter outro tipo de tratamento e de relação com a comunidade. Foi um início informal e com um documento inicial que ainda continua atual, porque apesar das evoluções ainda nada está implementado no terreno e isso faz com que o Movimento continue a fazer sentido”, explica Paulo Silva.
O crescimento do grupo ativista foi conseguido através do trabalho de sensibilização para o rio feito nas escolas da freguesia, que no entender do membro do MOVE “despertou os riotintenses para os verdadeiros problemas do rio”.
“A diferença deste Movimento foi apresentar críticas e soluções sustentadas em provas e projetos”, afirma Eugénia Faria. Para a defensora do rio Tinto a característica marcou a diferença para os restantes movimentos e elevou a consideração das entidades pelo MOVE.
O Movimento acabou por ser reconhecido, “em certas alturas”, pela Junta de Freguesia de Rio Tinto e pela Câmara Municipal de Gondomar. Contudo, o Movimento preferiu tornar-se independente. “A associação da Junta nunca foi contínua nem formal. Houve um apoio inicial da Junta e do Município mas isso levantou alguma polémica política e a partir de uma altura quisemos tornar-nos independentes dessas entidades, sobretudo na realização das nossas iniciativa”, aponta Paulo Silva.
Entre as atividades regulares do MOVE inserem-se as caminhadas pelo rio, ações de limpeza das margens, contactos com a população, plantações de árvores, entre outras atividades.
Para os membros do Movimento a data agora assinalada – 10.º aniversário – representa “um percurso longo e cansativo marcado por várias conquistas”.
“Mostramos que o Rio Tinto existia e que poderia ser uma ativo enorme para a cidade, mostramos que o Rio Tinto tem futuro se não for agredido e identificamos os problemas do rio: linhas residuais e de saneamento interligadas, ligações diretas ao rio, poluição das margens, entre outros…”, recorda Paulo Silva.
Quanto à possibilidade de replicar a ação do Movimento às restantes freguesias e rios do concelho, os membros admitem que Gondomar “beneficiaria de uma intervenção ambiental mais ativa”, contudo, afirmam, “o Movimento dificilmente será replicado, por falta de tempo dos ativistas”. “Temos diferentes atividades profissionais e não temos possibilidade de ter outro impacto municipal”, esclarece Eugénia Faria.
O grupo organiza reuniões com regularidade “nos cafés de Rio Tinto” e conta atualmente com 12 membros ativos. Assim preparam as iniciativas do MOVE, entre as quais se insere o Dia do Rio, institucionalizado em 2008, pela Junta de Rio Tinto.
“Foi uma data marcante e muito positiva para nós. Além disso, com o atual presidente da Junta de Rio Tinto o Dia do Rio é assinalado de forma mais significativa e as iniciativas realizadas provam que o Movimento continua a existir”, diz António Moreira.
Por fim, os membros deixam um desejo para o 10.º aniversário do Movimento, a criação da figura do guarda-rios – já adotada pela Lipor – por parte da Câmara de Gondomar e prometem manter-se vigilantes em relação ao rio e às entidades que o agridem.
“Vamos continuar atentos ao nosso ritmo”, conclui Paulo Silva.
“ETAR do Meiral foi uma derrota para nós”
“Durante muito tempo centramos a nossa ação no combate às agressões do rio, nomeadamente à ETAR do Meiral. Essa questão foi uma derrota para nós porque durante muito tempo defendemos o encerramento daquela ETAR, mas não conseguimos atingir esse objetivo por casmurrice técnica. A história é conhecida”, lamenta Paulo Silva.
Ainda assim, o membro do movimento mostra-se satisfeito com a alternativa da construção do intercetor da ETAR do Meiral, apresentada pelas autarquias do Porto e Gondomar e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
“Foram dados passos significativos, nomeadamente com o Plano Diretor Municipal (PDM), mas é esse caso que nos faz entrar em conflito com o presidente da Câmara de Gondomar. O Movimento gostou da primeira proposta do PDM, mas não foi essa versão que foi aprovada”, atesta o ativista Paulo Silva.
“Há aspetos positivos e negativos no projeto do Parque Urbano de Rio Tinto”
Em relação ao projeto apresentado pela Câmara de Gondomar para o Parque Urbano de Rio Tinto, os membros do MOVE manifestam dúvidas sobre a ideia lançada pela autarquia.
“Há aspetos positivos e negativos no projeto do Parque Urbano de Rio Tinto. Destacamos o corte da Rua da Ranha e a ligação pedonal dos diferentes espaços como principal aspeto positivo. Por outro lado, não percebemos porque é que existe a Avenida do Rio que não desemboca em lado nenhum, não percebemos a criação de parque de estacionamento naquela zona e não percebemos porque é que a Ribeira da Castanheira não é desentubada com o corte da Rua da Ranha”, afirma Paulo Silva.
O ativista espera que a construção de novas infraestruturas rodoviárias “não sirvam para dar capacidade construtiva a terrenos adjacentes”. “Fazemos votos que assim seja. Esperamos que esta proposta não mude radicalmente, como aconteceu com a primeira proposta do PDM”, refere o membro do MOVE que manifesta desconfiança em relação às “poucas dúvidas levantadas pelo presidente da Junta de Rio Tinto ao projeto apresentado pelo Município”.