1 – Após um longo compasso de espera imposto pela repetição das eleições no círculo da europa, foi, finalmente, encerrado o processo eleitoral, com a posse da nova Assembleia da República, e, consequentemente, do novo Governo. Aberta a cortina à boca do palco, findo o ritual das bênçãos presidenciais, e com Marcelo sentado no camarote de honra, António Costa tem a batuta preparada para o espetáculo governativo que vai começar.
À frente do Chefe do Governo sentam-se 17 ministros e 38 secretários de estado, o que eleva a orquestra para 55 executantes mais o respetivo maestro. Divulgados os nomes deste elenco, rápido se percebeu a lógica das escolhas de António Costa na formação desta equipa, que parte para uma longa maratona de 55 meses de mandato. A saber: uma orquestra de amigos e fiéis, recrutados na corte lisboeta, sem espaço para qualquer tipo de desafinação.
2 – E se cada um destes executantes não tem a menor dúvida sobre a respetiva partitura, também é fácil de perceber que a plateia socialista já está acomodada ao conforto das suas cadeiras, tão afinada para os aplausos quanto o repertório o aconselhar. É o que nos espera neste governo de maioria, onde as oposições ficarão à porta, apenas com direito a empunhar cartazes que os media se encarregarão de desvalorizar e apoucar.
Desiludam-se os que ainda acreditam que o ruído da rua há-de comover qualquer destes governantes, ou perturbar o espírito do chefe da orquestra. Migalha aqui, subsídio além, tudo contribuirá para uma santa paz de acomodadas instituições, humildes e agradecidos dirigentes, desde reverentes associações patronais a anémicas e conformadas centrais sindicais. Haja respeitinho perante quem manda, que o povo assim quis e escolheu…
3 – É certo que as feridas da pandemia e os dramas da guerra ditam para todos nós uma incerteza tão dramática sobre o futuro de curto e médio prazo que ninguém pode calcular. E quando o estômago impõe a sua ordem ninguém sabe a que armas pode recorrer. Mas, que diabo, não estamos protegidos por uma europa solidária, mais unida que nunca em torno do sagrado princípio de todos por um e um por todos? No fundo, acreditamos que sim, e assim será!
Por tudo isto, é sabido que António Costa e a sua orquestra não perderão um minuto de sono a pensar em obstáculos ou contratempos. O importante está garantido – pensam todos os executantes – e por isso, só honra e glória deverá ocupar os espíritos de tão afortunadas personagens. E se um qualquer profeta da desgraça ousar anunciar a ameaça de um qualquer diabo, a plateia há de levantar-se em peso para abafar a maldição com estrondosos aplausos. ■